Eis que abro a minha caixa de correio e me deparo com um simpático mail, que um não menos simpático amigo meu me enviou, com um link para esta tremenda notícia “Universidade de Coimbra entre as melhores”. Fui imediatamente ler a boa-nova e rejubilei! “Querem ver que apesar de TUDO (quem estuda nesta velha casa sabe bem o que este “tudo” quer dizer…), será que apesar de tudo UC ainda vale a pena?’” pensei eu..e de facto, depois de se ler a notícia, com os dados devidamente seleccionados pelo jornalista (esse comerciante, esse vendedor de notícias!) fica-se de facto com a ideia de que a UC está bem e recomenda-se. Eu podia bem limitar-me ao orgulho balofo de ter estudado numa das melhores universidades de Portugal e DO MUNDO! e deixar passar impunemente esta propaganda fictícia e gratuita que faz com que me cheguem mails a dizer “sim senhor, parabéns, estudaste numa das melhores universidades, ena!” e vai de sorrisos e palavras de admiração… é agradável mas são TRETAS! Meus amigos, é de lodo e escarro o ambiente intelectual que se vive na minha querida UC…eu entrei para a minha faculdade com média 18, sempre fui estudiosa, curiosa, interessada, motivada e trabalhadora. Cheguei á UC cheia de sonhos e de entusiasmo, trazia na mala a esperança de estudar a alto nível! Afinal eu tinha sido colocada na melhor universidade do país, um das melhores da Europa; 700 anos de História tinham de fazer a diferença. Seria certamente brilhante a minha formação técnico-cientifica e consequentemente o meu futuro!
Francamente….que triste ilusão! E ainda me chegam caloiros que confessam ter exactamente as mesmas expectativas que eu tinha! Incrível…o que posso eu fazer? Ouço-os e….sorrio. Aaah….
"Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer"
...e deixo-os sonhar!
Eu cheguei a Coimbra e basicamente fui considerada “mais uma” entre tantos; a minha primeira aula foi uma teórica de matemática e na aula estavam praí 300 alunos….como acontece em qualquer início de ano , toda a gente vai ás aulas e por isso o anfiteatro estava lotado e houve mesmo alunos que não tendo lugar se viram obrigados a ir embora (ainda hoje acontece que o digam os meus colegas de Direito e Medicina). Também deveria ter ido embora naquele dia! Afinal fiquei muito ao fundo do maldito anfiteatro (não cheguei com 45 minutos de antecedência não consegui um lugar á frente) e por isso não ouvi nada do que o "futuramente jubilado catedrático" (=velho) estava a dizer. Mas era engraçado ele, era baixote, óculos a fazer lembrar o Marcelo Caetano, mexia muito os braços e andava freneticamente de um lado para o outro, olhando para o chão ocasionalmente, quase num monólogo, como se estivesse atormentado por uma derradeira dúvida existencial. E rabiscava de vez em quando nos quadros deslizantes a um ritmo alucinado! Ora puxava ruidosamente um, ora subia desastrosamente o outro ora apagava o que acabara de escrever…ai! suspirei...quem me dera ao menos ver o que estava lá escrito! Aqueles alfas e betas tão desfocados até aos olhos de uma hipermétrope como eu...tanto pior para os que estavam sentados nas filas ainda mais atrás e que para mal dos seus pecados teriam boa visão. Lágrimas de raiva vieram-me aos olhos…e logo eu que adorava matemática! Que coisa tão triste. Eu era só mais uma.
E os anos passaram. E continuei a não ser ninguém.
Claro está que Coimbra está longe de conseguir formar génios. Não consegue. Pela falta de empenhamento dos professores, pela falta de infra-estruturas de qualidade, pela ausência de relação professor-aluno, pela falta de discussão na aula, por não fazerem que cada aluno se sinta "especial" (turmas de 200, 300??? Parecemos gado!), pela maneira como tudo é deixado à responsabilidade do aluno, por adoptarem métodos de ensino demasiadamente teóricos, livrescos e abstractos, por não ensinarem a pensar (esta então é terrível), por não ensinarem a trabalhar com qualidade, por não saberem avaliar os alunos...a lista de críticas é infinita! Por simplesmente “não quererem saber”. Na universidade de Coimbra o aluno é visto como um “pagador de propinas”. E mais nada. Aqui há uns tempos decorreu o processo de acreditação do meu curso....eu pedi a Deus que não fosse acreditado! Mas foi...claro! Uma equipa de Portugueses a avaliar (já diz o ditado "ninguém é bom juiz em causa própria")...façam mas é avaliações INTERNACIONAIS e vão ver as acreditações a serem desacreditadas num ápice! Sinceramente eu acho que nem um artigo cientifico conseguiria escrever para uma revista se necessário fosse! É vergonhoso mas devo admiti-lo.
Cientistas? Médicos? Filósofos? Politólogos? Líderes? Grandes escritores, arquitectos ou engenheiros de renome? Oxford, Harvard, Cambridge, o MIT eles que façam isso pelo mundo! A UC fez como o Pilatos e demitiu-se de responsabilidades. "Mas porquê"? Os alunos merecem MAIS. Os portugueses que estudam em universidades estrangeiras estão entre os melhores caramba!!! Que se passa????
Tenho sincera esperança que Bolonha faça a diferença. Para já reina a confusão típica. Mas acredito que num futuro próximo possamos finalmente ter instituições em Portugal dignas de notícia. Entretanto vejam o ranking no "The Times" e….tirem as vossas conclusões!
E não posso deixar de remeter para este site….como poderemos nós competir taco a taco com alunos que estudam em instituições como o esta? Ou como esta?! Impossível!!! Estão num nível de organização anos-luz do nosso E acreditam e preocupam-se, isto é, seguem de perto o aluno.
É ESTE O SEGREDO DO SUCESSO!
Fazer do aluno a prioridade máxima do sistema de ensino.
Será assim tão difícil?