quinta-feira, 24 de abril de 2008

(Re)pensar a Liberdade

Para aqueles que não viveram a ditadura, a revolução de Abril são fotografias, pessoas na rua, a grândola Vila Morena, cravos e espingardas, militares e uma shaimite (ou várias, nem sei ao certo), generais e capitães, gritos de exaltação à Liberdade. Ah, a Liberdade enfim!Quem a viveu sente-a, quem não a viveu assiste «de fora» e compraz-se com o facto de não ter passado pelo horror do Salazarismo e ter crescido com toda a liberdade possível. Torna-se realmente difícil saber o quão maravilhosa é a liberdade quando nunca se esteve «cativo». Eu nem sequer tive a sorte de ter uns avós ou uns tios daqueles que tivessem vivido nos dois períodos, na ditadura, durante a própria revolução e no período que se seguiu, que me contassem entusiasticamente como tudo foi e o que mudou desde então. O conhecimento que tenho da revolução de Abril foi obtido do escasso ensino na escola, de uns livros que li, de umas notícias anuais sobre a efeméride; nada que me fosse transmitido de viva-voz, nada que ficasse marcado em mim! É com desconsolo sincero que digo «não sentir» o 25 de Abril. E como eu, tantos. Mas de facto, a revolução de ontem, como a lembramos hoje, morreu. É um acontecimento belíssimo da historia de Portugal mas as gerações que a sentem estão a desaparecer; as que ficam encaram este dia como «um feriado» e se lhes perguntarem pormenores sobre a data desembolsam uns chavões quaisquer e tentam sair imaculadas, na medida do possível, de tão constrangedor inquérito. Nada sabem porque na realidade não o sentem, não foi a «sua» revolução. Há 34 anos, que era eu senão um mero «projecto» de existência? A revolução existiu enquanto acontecimento, existe enquanto memória, mas está morta, ou moribunda pelo menos, porque a sua "alma" abandona lentamente, ano após ano, o seu corpo... O mundo mudou, as ditaduras são outras! Mais imperceptíveis mas igualmente limitadoras e, quiçá, dada a sua subtileza, mais perigosas. A luta pela Liberdade deverá ser feita todos os dias, só precisamos de tomar consciência dessa necessidade. Acho verdadeiramente exemplar e orgulho-me que no meu país se consagre um feriado a tão nobre ideia! mas este dia não deveria exaltar um acontecimento passado, aprisionado na memória, rígido, frio e estático, porque morto. É preciso encher a Liberdade de Vida fazendo a Revolução todos os dias!

Num sentido prático, e porque tem de se começar por pequenos passos, sugiro um Dia da Liberdade Europeu: celebrado por todos, simultaneamente, novos e velhos, como expressão máxima de uma civilização. Um dia em que se alertaria para a importância de ser possível exprimir livremente as ideias, de criar livremente, de concretizar os projectos, de dar asas ao génio criativo que há em cada ser humano, independentemente da sua religião ou idade! Um dia de educação para o sentido da Responsabilidade já que a liberdade de cada um termina onde começa a do outro. Um dia de exaltação do respeito mútuo e o prazer de aprender com a diferença. Um dia de educação para a partilha! O NOVO dia da Liberdade deveria ser um dia de exaltação do individuo e da sua capacidade criativa, responsável e consciente. Um dia Humanista por excelência. Um dia de abertura de horizontes e de alargamento de consciência. Creio que nos encontramos num momento da História em que se torna necessário repensar a nossa acção e dar um real significado aos nossos dias, ao nosso tempo. Não basta exaltar os valores, é preciso vivê-los, compreender a sua importância, insuflá-los de ar renovado, de vida nova para que possam vibrar no espírito. Só com a consciência plena do que é a Liberdade é que esta terá a sua expressão máxima!




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