domingo, 16 de dezembro de 2007

Completamente_In Rainbows

Andava a evitar de o fazer mas não consigo resistir.

Já ouviram o último dos Radiohead? Se ainda não e gostam da banda, não temam! Corram a ouvi-lo! Está simplesmente genial. O curioso é que espero sempre com alguma ansiedade pelos trabalhos desta banda; por um lado tenho calafrios só de pensar que podem um dia acabar, que podem deixar de fazer “aquele som”, tão viciante, e por outro, quando lançam um cd, eu não consigo ouvi-lo imediatamente. De maneira que, confrontada com um novo trabalho, acabo sempre por suster a respiração e morder ligeiramente o lábio. É como se tivesse “receio” de ouvir, como se uma “house of cards” se pudesse desmoronar pelo ténue suspiro da minha desilusão. A provar este meu “medo” está o facto de eu não ter sido uma daquelas pessoas que se apressou a fazer o download em Outubro. Na realidade um quase repúdio pela ideia de haver milhões a quererem ouvir “as novidades” fez-me resistir a baixar as músicas. Felizmente a minha irmã, bem mais prática e despreocupada, sem estes tiques de fã “meio pseudo”, lá se encarregou de o colocar numa pasta e o trabalho foi ficando escondido, quieto, quase negligenciado, à espera que eu ganhasse “coragem” de o ouvir. Um dia destes foi “o dia”. Abri o álbum e pus-me a ouvir; primeiro de raspão, como de costume, para ver se algum início me cativava especialmente. “Ufa!” respirei de alívio “ não tá mau”. Houve algumas músicas que até me chamaram a atenção, o que era muito bom sinal, queria dizer que o álbum tinha “potencial” para continuar a alimentar a relação apaixonada, obsessiva e “poligâmica” que mantenho há alguns anos com estes cinco indivíduos. Depois pus-me a ouvir mais atentamente. Começamos com “Bodysnatchers”, rápida, agressiva e com aquelas guitarradas e jogos de repetições vocais, tão típicas; seguiu-se a “Nude”, literalmente despida, nua, calma, em que o inicio por momentos parecia tirado de uma música da Bjork, daquelas feitas só com as vozes humanas. Relaxante e muito delicada foi como se de um salto de “bungee jumping” em “bodysnatchers” mergulhássemos subitamente no fundo do mar, soltássemos amarras e “respirássemos” tão calma e naturalmente como enquanto na barriga da mãe. Continuei a ouvir e entra “Weird fishes”: boa batida, aquele “hum” do thom yorke (inconfundível! “here comes the flood” para aqueles que percebem), depois as teclas entraram em bicos de pés, depois a guitarra, a voz até que a partir dos 3:03…sublime! “weird fishes, weird fishes” e anestesia-nos uma “injecção” carregada do melhor som que só estes seres (tão) humanos sabem fazer. Continuando, já completamente estupefacta, “All I need”: triste, misteriosa, densa, soturna, perfeita em letra e som (“I am all the days that you choose to ignore”). Segue-se a “Faust arp”, equilibrada, a menos surpreendente até agora. Passei á frente e UAU, “Reckoner”, o que é isto??? Que início! Foi uma daquelas que me chamou à atenção logo na primeira escuta! Continuando a ouvir…beeeeemmmmmm isto é, isto é simplesmente, RADIOHEAD NO SEU MELHOR!!! Lindo. É uma daquelas músicas que não se consegue descrever. Não adianta, não há palavras. Não sei se é por eu ser uma fã incondicional mas esta música é uma das melhores que eu já ouvi até hoje. Começa muito simples e delicada e vai crescendo, ganhando corpo, forma, intensidade e quando damos por isso estamos completamente envolvidos, somos tomados de assalto pela emoção, por esta balada tão simples e tão complexa ao mesmo tempo. É mesmo, mesmo, mesmo radiohead no seu melhor. Não há palavras. É ouvir e deliciar-se. Desde a letra, à interpretação, passando pela composição sonora…Não dá para passar à frente, não é simplesmente possível. Fica-se completamente preso ao som e não se consegue interromper; e mesmo no fim um cheirinho de “massive attack”…mmmm. Se passarem à frente perdem estes pormenores; não dá para fazer, é pecado!

Estava rendida. Já não era preciso mais nada, o álbum já estava mais do que excelente, estava já viciada em pelo menos três músicas, bem ao estilo do que aconteceu com outros álbuns e já dava por cumprida a missão destes tipos com “cabeça de rádio” como diz a minha irmã. Mas não podia parar de ouvir. Carrego no “play” novamente e toca “House of cards”: I don´t want to be your friend, I just want to be your lover”, depois “Jigsaw falling into place”, bom arranjo, quase elíptico, da guitarra e da voz, passei à frente (confesso!) e eis que entra, a marcar-passo, a “Videotape” e começa um dos “vídeos” mais delicados e “radioheadianos” desta magnifica paleta de sons. O tom repetitivo do piano e a voz quase quebradiça do “génio”, aquele falsete frágil, aquele som de exército a marchar ou lá o que é aquilo (alguém me ajuda?) e aquele murmúrio, aquele lamento que cresce ao som do piano, transportando-nos para um universo introspectivo, de solidão e de tristeza, tão delicado e tão lindo. No final senti-me emocionada. Quase sem forças para continuar a ouvir. Estava prostrada. Mas só faltava mais uma…será que aguentaria? “How come I end up where I started?”, é a “15 step” a lembrar-nos que o mundo é redondo e quando menos esperamos…voltamos ao início (entre os 2:25" e os 3:12" o sintetizador leva-nos numa viagem de mais de 15 passos mas sem nunca tocarmos o chão...)! E “etc….etc..”

Lembro-me do dia em que a jogar um jogo de futebol para a PS passou a “myxomatosis”. Fiquei intrigada. Grande som. Quem seriam estes gaijos. “Radiohead!” disse-me o meu primo. “Tenho de arranjar isto” pensei. Uns tempos mais tarde chegava-me ás mãos um cd gravado, sem qualquer descrição na caixa, com uma série de músicas que segundo pessoa que mo entregava eu iria adorar porque eram simplesmente o meu estilo. Lembro-me de ouvir e adorar.

- “Mas ó Carlita, estas músicas são de quem?”

-“Acho que é Radiohead”

Nunca mais os perdi de vista, ou melhor, de ouvido! Se a minha vida tivesse um banda sonora teria de ser forçosamente com músicas desta banda, verdadeiros hinos aos sentimentos, aos “meus” sentimentos, músicas nas quais me perco e me encontro apaixonada e constantemente.

Acho que finalmente percebi por que é “in rainbows” este álbum: como todos os arco-iris ele é colorido e harmonioso num primeiro olhar mas é no fim dele, bem lá ao longe, onde ele parece já não brilhar mais, que se esconde o verdadeiro tesouro.

E entretanto, vou ouvir a “Reckoner” pela n-ésima vez e depois a “Weird fishes” e depois a “Nude”, e a “Videotape” e continuar a descobrir mais pormenores, aquela entoação particular do thom, aquele arranjo, aquele som mesmo no fim, aquele sussurro, aquele acorde, aquela variação do timbre, aquela palavra, aquele momento em que entram as cordas, o piano,…

E vou continuar a ouvir, a ouvir, a ouvir, “tantricamente” até ao prazer supremo.

“Because we separate like
ripples on a blank shore
(in rainbows)”

2 comentários:

Anónimo disse...

Acho que mais que um grande álbum, os Radiohead fizeram história na musica contemporânea e deram um grande abanão na industria discográfica, que diga-se de passagem , já estava a precisar.Depois deste álbum, acho que a única coisa que podemos afirmar face à música dos Radiohead e ao destino da industria discográfica é: «Ninguém sabe onde isto vai parar».
Ironicamente, a melhor lição que a indústria discográfica teve até hoje foi, e é, dada por uma banda que se manteu na sombra a este tipo de questões. Subitamente, opina e revoluciona...Genial!
(o texto está execelente, só lhe faltava esta peça do puzzle eheh)

Ilídio Marques

Regina disse...

O texto pode até estar excelente mas o teu comentário não lhe fica nada atrás! De facto estes "individuos" são geniais não só a fazer música mas também a promovê-la e eventualmente a vendê-la! Já era sem tempo de haver alguém a dar o tal "abanão" (ou pontapé no traseiro! como quiserem...) na indústria discográfica. Nada substitui um cd (do meu ponto de vista) porque ele é o nosso contacto físico com a banda, com a obra. No entanto há muito tempo que eu deixei de poder de comprar cds e não me parece que a industria discográfica se tenha importado muito com isso, com as minhas frustrações. Permaneceu autista e agora vê-se sem "fregueses". Onde isto vai parar? Á emancipação definitiva das bandas e á democratização absoluta da música.

Muito obrigada pelo comment. Era realmente a "peça" que faltava e os comments servem mesmo para isso. Quando escrevi o post lembrei-me também desta questão mas não me apeteceu misturar a "escumalha" com a genialidade e beleza.

Sinto que já te conheço um bocadinho! :)